Psicanalista explica como uma mãe pode enfrentar o luto durante uma gestação, após a perda do bebê da apresentadora Tati Machado
Publicado em 16/05/2025, às 18h37 - Atualizado às 18h45
O luto gestacional é uma das experiências emocionais mais intensas e delicadas que uma mulher pode enfrentar. A dor de perder um filho ainda no ventre rompe expectativas, sonhos e vínculos já criados durante a gestação. Recentemente, a apresentadora Tati Machadocompartilhou publicamente a perda de seu bebê no oitavo mês, trazendo à tona uma discussão necessária sobre como nossa sociedade encara — ou evita encarar — essa forma de perda. É um tipo de luto que costuma ser silencioso, mas cuja intensidade precisa ser reconhecida.
Para a psicanalista Andrea Ladislau, um dos maiores desafios ainda está na forma como a sociedade minimiza essa dor. Comentários como “Você é nova, pode tentar de novo” soam como tentativas de consolo, mas acabam deslegitimando o sofrimento real da mulher. “Essa dor é legítima e precisa ser reconhecida e acolhida”, explica. Andrea enfatiza a importância de permitir que a mulher em luto expresse livremente seus sentimentos, como raiva, tristeza e frustração. Superar não é a meta. O objetivo é elaborar as emoções e encarar as etapas do luto de forma honesta e humana.
Esse processo, no entanto, não segue prazos. Cada mulher vivencia o luto em seu próprio tempo, e é essencial que se respeite isso. Segundo a psicanalista, “não cabe impor um ritmo padronizado do tipo: ‘já deveria estar melhor’”. Há um tempo interno, chamado Kairós, que regula a forma como a dor vai sendo ressignificada — diferente do tempo cronológico que conta dias e horas. Esse tempo subjetivo permite que a mulher lide com sua dor de maneira mais autêntica, sem a pressão de parecer forte ou “curada”.
A psicanálise também observa o luto gestacional como uma ruptura profunda com a identidade da maternidade. Durante a gestação, a mulher estabelece uma relação simbólica com o bebê, que, segundo Andrea, “também é, em parte, ela mesma”. A perda atinge o corpo, o ego e a idealização do papel materno. Por isso, é tão importante validar essa experiência como uma perda real e significativa, não importando se o bebê chegou a nascer ou não.
Por fim, Andrea reforça que o luto gestacional não é uma doença. Ele não precisa ser apressado, escondido ou ignorado. “O luto gestacional vivenciado por qualquer mulher, famosa ou não, se for encarado com os devidos cuidados e o apoio necessário, certamente, irá ajudar a ressignificar a perda”, afirma. Ao dar espaço para essa dor, com sensibilidade e empatia, contribuímos para que essas mulheres encontrem suporte, amor e força para atravessar um momento tão difícil.
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