Trama da Globo que foi pioneira por gravar no exterior precisou de mudança na direção para fazer sucesso entre os telespectadores
Publicado em 20/02/2025, às 10h52
Em 20 de fevereiro de 1967, há 58 anos, a Globo estreava A Rainha Louca como nova novela do horário das 21h30. Escrita por Glória Magadan e inicialmente dirigida por Ziembinski, o enredo não conquistou o público e foi necessária uma mudança na direção para o folhetim fazer sucesso. O pioneirismo da produção, que foi a primeira obra brasileira com cenas no exterior, se deve ao diretor descartado.
A Rainha Louca entrou para a história como a primeira novela brasileira a ter cenas gravadas fora do país. De acordo com o jornalista Nilson Xavier, do Teledramaturgia, a iniciativa partiu do primeiro diretor da novela.
Com o objetivo de trazer mais realismo à narrativa, Ziembinski levou parte do elenco ao México para captar imagens em locações históricas, como o Castelo de Chapultepec, na Cidade do México. Outras cenas externas, destaca Xavier, foram gravadas no Brasil, no Parque Lage, Rio de Janeiro.
Mesmo com o esforço do diretor em construir uma história mais realista, A Rainha Louca não engrenou com o público. Os capítulos iniciais, relembra o Teledramaturgia, eram vistos como lentos e sem graça. Com essa percepção, Boni, então diretor-geral da Globo, decidiu substituir Ziembinski.
Apesar do investimento na produção, a novela enfrentava dificuldades para engajar o público. Segundo José Bonifácio de Oliveira, o Boni, os capítulos iniciais tinham um ritmo arrastado e não despertavam interesse. Para mudar essa situação, ele decidiu substituir Ziembinski por Daniel Filho, que assumiu sua primeira direção de novela na Globo.
Em seu livro, ele narra a iniciativa: “Assisti a alguns capítulos. Eram terrivelmente chatos e arrastados. O Ziembinski dava à novela um ritmo lento e pesado. Precisava substituí-lo. Era o momento de recorrer ao Daniel Filho".
A mudança fez efeito imediato. O novo diretor deu mais dinamismo à narrativa e o público passou a se interessar pela história, resultando em um aumento significativo da audiência. O sucesso, segundo o Teledramaturgia, levou a Globo a ampliar a duração da novela, que passou de 160 para 215 capítulos.
No livro O Circo Eletrônico, de Daniel Filho, o diretor afirmou que nunca havia se interessado por novelas, mas aceitou o desafio proposto por Boni. A transição na direção, no entanto, não foi tranquila: parte do elenco chegou a organizar um abaixo-assinado pedindo a permanência de Ziembinski.
Para contornar a resistência, Daniel contou com a colaboração do ator Amilton Fernandes, que encenou um erro proposital em uma cena, seguido de uma bronca ensaiada pelo novo diretor. O episódio desmobilizou o movimento pró-Ziembinski.
Além de acelerar o ritmo da novela, Daniel Filho introduziu elementos visuais e narrativos inspirados no cinema. Graças a essa reformulação, A Rainha Louca se tornou um sucesso de audiência e foi finalizada como um dos marcos da televisão brasileira.
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