Contigo!
Busca
Facebook Contigo!Twitter Contigo!Instagram Contigo!Youtube Contigo!Tiktok Contigo!Spotify Contigo!
Novelas / Em 1990

Manchete fez minissérie sobre personagem histórica símbolo da luta contra escravidão há 35 anos

Trama da Manchete contou, em quatro capítulos, a história de Anastácia, jovem símbolo da luta das mulheres negras contra a escravidão

Cena de Escrava Anastácia - Reprodução/IMDB
Cena de Escrava Anastácia - Reprodução/IMDB

Em 15 de maio de 1990, há 35 anos, a extinta TV Manchete estreava Escrava Anastácia como sua nova minissérie exibida no horário das 22h50. Escrita por Paulo César Coutinho, a obra falava sobre uma personagem histórica símbolo da luta contra escravidão, uma jovem rebatizada como Anastácia ao chegar ao Brasil depois de ser capturada e trazida à força para o Brasil. 

Personagem forte

Escrava Anastácia colocava no centro da narrativa a dor, a resistência e a espiritualidade de uma mulher negra escravizada. Com apenas quatro capítulos, a obra escrita por Paulo César Coutinho e dirigida por Henrique Martins foi exibida às terças-feiras no horário das 22h50, dentro do projeto Fronteiras do Desconhecido, e logo se tornou um marco para a Manchete pelo seu tema e pela sensibilidade com que tratou uma figura histórica cercada de mistério e reverência.

A personagem central, interpretada por Ângela Correa, foi inspirada na figura lendária de Anastácia — mulher de origem africana que teria vivido no Brasil colonial, sendo escravizada, marcada com máscara de ferro e posteriormente cultuada como santa popular.

Na minissérie, sua trajetória começa ainda na África, onde, com o nome de Ojú Orun, é capturada, vendida como mercadoria e embarcada em um navio negreiro rumo ao Brasil. Ali, é renomeada como Anastácia, perde sua liberdade, mas não sua fé nem sua força interior.

Olhar de denúncia

Instalada em uma fazenda de cana-de-açúcar, Anastácia passa a ser propriedade de Dom Antônio (Flávio Galvão), um senhor autoritário que, ao mesmo tempo em que se encanta por sua beleza, é incapaz de enxergá-la como um ser humano. Na casa-grande, ela também enfrenta o ciúme e a crueldade da Sinhá Bela (Carolina Ferraz), mulher branca que vê na escrava não apenas uma ameaça ao seu casamento, mas também um espelho de sua própria frieza e racismo. O feitor Fluentes (Tarcísio Filho) também se interessa por Anastácia, ampliando o cerco de violência e tensão ao seu redor.

Apesar das humilhações, Anastácia revela possuir um dom espiritual: ela cura com ervas e orações, um legado ancestral que resiste mesmo diante da imposição do catolicismo e do silenciamento de sua cultura africana.

Suas rezas ganham força entre os demais escravizados, despertando a admiração dos que sofrem ao seu lado e a suspeita dos brancos. O contraste entre a brutalidade dos castigos físicos e a delicadeza de seus gestos reforça a proposta da obra: mostrar como a fé e a solidariedade foram formas de resistência ao regime escravagista.

Elenco representativo

Com participações de nomes como Chica Xavier, Neuza Borges, Elisa Lucinda, Antônio Pompêo, Rosa Marya Colin e Solange Couto, a minissérie valorizou um elenco majoritariamente negro — um gesto ousado para a televisão ainda dominada por elencos embranquecidos.

A presença dessas atrizes e atores deu corpo e alma à experiência dos escravizados, indo além do sofrimento e explorando também seus saberes, afetos e religiosidade.

Escrava Anastácia, acima de tudo, não romantizou a escravidão. Pelo contrário: denunciou a violência do sistema escravagista, a objetificação das mulheres negras e a hipocrisia da elite branca brasileira. E o fez sem deixar de lado a poesia e a emoção, representadas nos laços comunitários, nas cantigas e nos rituais que mantinham viva a memória africana em solo brasileiro.

Leia também: Atriz de A Viagem sofreu infarto e morreu aos 24 anos

OSZAR »